Compreender o Brasil: o que aconteceu durante os 41 anos da República Velha
POLÍTICA: De 1889 a 1930, o Brasil viveu sob uma república excludente, dominada por oligarquias. Saiba como esse período moldou a sociedade brasileira
23/05/2025 10:33:11
| Atualizado há 2 meses atrás

[ Conteúdo: Portal de Notícias iclnoticias.com.br ]
A Primeira República começou com o fim da monarquia, em 15 de novembro de 1889, quando o Marechal Deodoro da Fonseca liderou um golpe militar que derrubou o imperador Dom Pedro II. Mas o que levou ao fim da monarquia no Brasil?
O estopim foi uma série de crises acumuladas.
A principal delas foi a abolição da escravidão, em 1888, com a assinatura da Lei Áurea. A elite agrária, que era dona da maior parte das terras e da força de trabalho escravizada, ficou furiosa: perderam seus “bens” sem receber nenhuma compensação do governo imperial. Essa elite rompeu com Dom Pedro II e passou a apoiar a criação de uma república — não por desejo de igualdade, mas para manter seus privilégios de outra forma.
O Primeiro Período da República Velha
Logo após o período de distanciamento da monarquia, a Constituição instituída em 1891 estabeleceu o voto direto, mas apenas para homens alfabetizados com mais de 21 anos.
Isso excluía a maioria esmagadora dos brasileiros: mulheres, analfabetos, soldados do Exército, padres e toda a população indígena estavam fora do processo eleitoral. Também não havia Justiça Eleitoral — o que facilitava fraudes e manipulação nos resultados.
Nessa época, votar não era um direito pleno, era um privilégio de poucos.
O Coronelismo
Entre os principais acontecimentos do primeiro período da República Velha está o coronelismo, que consistia no controle político e social exercido por “coronéis” — líderes locais, geralmente grandes fazendeiros, que mandavam na vida política das regiões do interior.
Eles mantinham sua influência por meio de relações de dependência: ofereciam emprego, comida, favores e proteção em troca de obediência e votos. Esse sistema era sustentado pela pobreza e pelo medo. O chamado voto de cabresto era comum — o eleitor era forçado ou convencido a votar conforme a vontade do coronel.
Outro acontecimento importante nesse primeiro período foi a crise do encilhamento, que aconteceu entre 1890 e 1892 e teve seu estopim logo após a Proclamação da República.
O governo do então ministro da Fazenda, Rui Barbosa, tentou estimular o crescimento econômico incentivando a criação de empresas e facilitando a emissão de papel-moeda. A intenção era gerar emprego e modernizar a economia, mas sem controle e com muita especulação, o plano virou um desastre.
Surgiram centenas de empresas fantasmas atrás do financiamento do governo e o mercado acabou entrando em colapso, resultando em inflação, desemprego e instabilidade econômica.
O Segundo Período da República Velha
A partir de 1894, com a saída dos militares do poder e a eleição de Prudente de Morais, tem início o que ficou conhecido como a República das Oligarquias.
Essa fase da Primeira República foi dominada por um acordo informal entre as elites de São Paulo e Minas Gerais – os dois estados mais ricos e influentes da época. O estado de São Paulo era o maior produtor de café, enquanto Minas Gerais produzia gado, leite e derivados, o que deu origem ao termo “política do café com leite”.
Esse acordo consistia em revezar o poder entre políticos paulistas e mineiros, mantendo o controle do governo federal e garantindo vantagens econômicas e políticas para suas oligarquias.
Durante toda a Primeira República (1889–1930), o Brasil teve 13 presidentes.
• Deodoro da Fonseca (1889–1891) – Alagoas
• Floriano Peixoto (1891–1894) – Alagoas
• Prudente de Morais (1894–1898) – São Paulo
• Campos Sales (1898–1902) – São Paulo
• Rodrigues Alves (1902–1906) – São Paulo
• Afonso Pena (1906–1909) – Minas Gerais
• Nilo Peçanha (1909–1910) – Rio de Janeiro
• Hermes da Fonseca (1910–1914) – Rio Grande do Sul
• Venceslau Brás (1914–1918) – Minas Gerais
• Delfim Moreira (1918–1919) – Minas Gerais
• Epitácio Pessoa (1919–1922) – Paraíba
• Artur Bernardes (1922–1926) – Minas Gerais
• Washington Luís (1926–1930) – São Paulo
Os dois primeiros eram militares — Deodoro da Fonseca e Floriano Peixoto — e governaram o que se convencionou chamar de “República da Espada”, mas foi a partir de Prudente de Morais que os civis (também ligados às oligarquias estaduais) passaram a ocupar o poder.
Outro fato curioso são os dois presidentes que, aparentemente, fogem à regra.
Mas embora não fossem de São Paulo ou Minas Gerais, Hermes da Fonseca e Epitácio Pessoa não representaram uma ruptura com a lógica da política do “café com leite”.
Hermes, do Rio Grande do Sul, era militar e foi eleito com apoio das oligarquias, num momento em que o Exército buscava recuperar influência política. Já Epitácio, da Paraíba, foi escolhido como solução de compromisso pelas elites paulistas e mineiras após a morte de Rodrigues Alves, sendo visto como um nome neutro e confiável.
Em ambos os casos, apesar da origem fora do eixo dominante, os dois preservaram os interesses das oligarquias e ajudaram a manter a estrutura excludente da República Velha. Apesar de a olho nu não parecer, foram exceções que confirmaram — e sustentaram — a regra.
Registro da chegada de Getúlio Vargas ao poder em 1930, marcando o fim da República Velha. A faixa celebra o armistício da Revolução de 1930 . Arquivo